Em
16 de abril, o cartório do 2º Subdistrito de Registro Civil fará mais um
casamento em Belo Horizonte. Os noivos escolheram a data com cuidado, de forma
a coincidir com o dia do início do namoro, quando os dois se conheceram, há
sete anos. Como se trata de uma cerimônia apenas no civil, os familiares
queriam oferecer um almoço, mas eles recusaram a gentileza. Fazem questão de
brindar os amigos e a família com uma recepção. Esses seriam os proclamas de um
casamento qualquer, mas se torna especial no momento em que se revela os nomes
dos noivos em questão.
Com autorização da Justiça, publicada na última
sexta-feira no Diário Oficial de Minas Gerais, o consultor de negócios Carlos
Eduardo Guimãraes de Oliveira, 31 anos, e o analista de TI Jorge Chediack
Miguel, 30, passam a ser o primeiro casal homoafetivo a se unir no civil em
Belo Horizonte, exatamente como fazem os noivos heterossexuais. Eles vão adotar
os sobrenomes um do outro (Chediack e Oliveira) e vão se casar no regime de
comunhão total de bens. Como padrinhos e testemunhas, terão os amigos Erica Regina
e Wagner Lopes, da parte de Eduardo, e do lado de Jorge, o irmão dele Guilherme
Chediack e a amiga Natália Figueiredo. “É o natural da vida se conhecer,
namorar, noivar e casar. Já temos planos para os próximos cinco anos, como
conhecer o mundo e futuras aquisições de imóveis. Ainda não pensamos em adotar
filhos”, relata Eduardo.
Eduardo e Jorge moram juntos desde 2005. Em
2010, passaram a viver uma união estável, legalizada por meio de escritura
pública. Com base na decisão do juiz Valdir Ataíde Guimarães, da 11ª Vara de
Família de Belo Horizonte, conseguiram converter a união estável em casamento.
Segundo os termos da sentença, seus efeitos jurídicos e legais serão
retroativos a 2005. “Cansaram de dar conselhos para a gente ir a Manhuaçu ou a
cidades do Nordeste onde o casamento gay já é aceito, mas eu queria casar na
minha cidade, por mais que ela tenha fama de conservadora”, afirma Eduardo.
É o primeiro caso de casamento civil homoafetivo
na capital mineira a se tornar público desde que o Supremo Tribunal Federal
(STF) equiparou a união homossexual à heterossexual, em maio de 2011. A decisão
do STF, de 2011, não é equivalente a uma lei sobre o assunto. O artigo 1.723 do
Código Civil estabelece a união estável heterossexual como entidade familiar. O
que o Supremo fez foi estender esse reconhecimento a casais homossexuais. “Eles
comprovaram ter o verdadeiro intuito de formar uma família”, afirma a advogada
Giulianna Sena, autora da ação.
Convivência
No decorrer do processo, ajuizado em novembro
passado, a advogada orientou os dois a demonstrar a convivência pública,
duradoura e contínua. Para tanto, eles apresentaram fotos onde aparecem juntos
em situações de família, com os próprios pais e com amigos em comum. O casal
anexou ao processo declarações de amigos e colegas de trabalho, autenticadas em
cartório, e até a declaração da proprietária do apartamento que eles alugavam,
que testemunhou a favor das reais intenções dos noivos.
“Sei que a decisão vai provocar antipatia
em muita gente, porque o preconceito ainda é grande”, avalia a advogada, que
omitiu da própria família estar cuidando do caso. “Venho de uma família muito
católica, vou à igreja, mas depois que passei a conviver com eles percebi que
são bem posicionados socialmente e formam uma família de muito respeito”, diz
Giullianna. “Eles são aceitos pelos pais do Jorge. Eduardo já não tem mais
família, mas a mãe dele chegou a conhecer o Jorge. Também são muito queridos
entre os amigos”, acrescenta a advogada, que considera a decisão da Justiça mineira
um avanço. Em outras capitais, como Rio de Janeiro e São Paulo, autorizações
semelhantes vêm sendo concedidas há um ano e meio.
Memória
Primeira permissão em Manhuaçu
O primeiro casamento homossexual com registro civil em Minas Gerais foi
realizado em março do ano passado em Manhuaçu, na Zona da Mata. Wanderson
Carlos de Moura, de 34 anos, e Rodrigo Diniz Rebonato, de 18, foram autorizados
pela Justiça local a oficializar a união. O ato abriu caminho para que outros
relacionamentos fossem formalizados no estado. Wanderson e Rodrigo entraram com
uma ação na Justiça, com base na decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que
reconheceu a união estável entre pessoas do mesmo sexo. O juiz da comarca,
Walteir José da Silva, acompanhou o posicionamento do STF, que considerou a
união estável de pessoas do mesmo sexo como uma unidade familiar.
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